O autor das 48 crônicas reunidas neste livro entregou um almofariz de pedra para\nDeméter, a deusa da terra cultivada, da fertilidade dos campos, dos grãos que saciam,\ncomo símbolo da inescapável rotina da alimentação, que nos acompanha desde a\norigem, desde os tempos da caça ao auroque e, por tabela, da luta pelo tutano de seus\nossos. Início de uma linha que, não sem sobressaltos, chegou também ao conforto do\nossobuco embalado a fino vinho Barolo.\n“Fome e sede primordiais”, como escreveu o escritor grego Nikos Kazantzákis,\ncontinuarão a nos atribular enquanto vivermos, destino inexorável. O autor de O\nAlmofariz de Deméter trata justamente dessa tarefa de comer – e de sobreviver –, em\nvários tempos históricos e em uma variedade de espaços geográficos, iluminando\nespecialmente momentos nos quais a cozinha e a mesa são territórios de prazer e de\ninvenção de afetos. Não há exagero em dizer que o autor cria verdadeiras epifanias\nenogastronômicas. O escritor Roberto Taddei, que assina a apresentação deste livro,\nintitulada “Um romance à mesa”, assinala uma evidente relação entre os textos,\nchamados de “cantos gastronômicos”.\nUma viagem que pode nos levar do pato prensado e numerado do Tour D’Argent de\nParis à içá com ora-pro-nóbis de Silveiras, no Vale do Paraíba.